hoje me deparei com uma cena meio blue. uma mulher, nos seus 50 anos, provavelmente mãe, de estatura pequena, com os cabelos despenteados, desarrumados, com uma cesta de rosas vermelhas. ela as vendia. passava em meio a uma multidão, a qual eu também fazia parte. véspera de feriado. semana santa. noite já, e todo mundo preocupado só em chegar em casa depois do trabalho, depois de um dia inteiro. ela ainda trabalhava. flower girl. observava todos na multidão. encarava alguns, outros apenas de relance. procurava algo. mas ela não oferecia suas flores para pessoas solitárias, como eu. ela buscava algo a mais. buscava casais. o cavalherismo nos namorados que encontrava. buscava a espontaneidade, pura como o amor. talvez ali não havia amor. só solidão, carência, contratos, acomodações. eu, em minha mais companheira solidão, senti-me ainda mais só, mas cheio de amor. aquelas rosas me encheram de amor. as flores que ela não me ofereceu foram dadas a mim pelo tempo, por aquele momento. eu, em retribuição, queria comprar uma de suas rosas e presenteá-la, aparentemente uma frágil mulher, porém muito forte. queria dá-la um presente seu, o mesmo que ela oferece aos outros. e todos os dias. talvez alguém compre. um jovem casal, um romântico incurável qualquer. mas os que não compram suas rosas são presenteados mesmo assim com aquela pureza, com seu amor. sua força e beleza. não é qualquer pessoa que pode vender rosas. nem todos conseguem carregar uma cesta de flores. não sei se eu conseguiria. ela se afastava. mas ninguém comprava suas flores. ninguém ali amava. ninguém ali era puro, só ela. that flower girl. ainda era noite. e não havia passado ainda um minuto disso tudo. mas ela já havia desaparecido na escuridão. os postes de luz já não a iluminavam às nossas vistas mais. só meu olhar a seguia. só. e as palavras perdiam seus sentidos, seus significados. um signo puro, sem significante. só a imagem, só o momento. fugaz também. sem trilha sonora. não era necessária. nem falas. nem iluminação. só isso. só ela. só a solidão. só. (and words are useless. especially sentences. they don't stand for anything. how could them explain how I feel?)