quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ópera: Macbeth (Verdi), Belo Horizonte, junho de 2009




Montagem inédita da Fundação Clóvis Salgado para a ópera de Verdi, Macbeth tem ingressos esgotados já para suas duas últimas noites de espetáculo. Ao todo, serão 5 apresentações, terminando no sábado dia 27, no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
No último domingo, fui lá assistir. Casa lotada.

Como não sou um grande conhecedor das técnicas líricas e operísticas, vou me abster à comparação - inevitável para qualquer Shakespeariano - entre a obra literária e a operística. Claro, são linguagens diferentes. Verdi e o librettista modificaram a "Tragédia Escocesa" para chegarem a um ponto particular à época e ao que eles queriam provocar com a ópera. Prefiro Shakespeare. Claro. Mas Verdi também soube (re)criar uma obra de beleza e intensidade inigualáveis nesta Bela Tragédia. Eu já conhecia duas gravações: uma com Maria Callas (sim, La Divina!) e outra com Fiorenza Cossoto. Ambas excelentes sopranos, na minha humilde opinião. Mas a montagem do Palácio das Artes também ficou muito boa. Entre os solistas, dois norte-americanos que já se apresentaram em temporadas no MET Opera House de New York, além de solistas já conhecidos pelo público mineiro de outras temporadas e apresentações de música erudita na cidade. Não quero detalhar o cenário, figurino, iluminação... Não foi uma Aida, como de 2008. Mas também não chegou ao cúmulo de uma Die Zauberflöte com bonecos, de 2006. Mas gostei. Realmente foi muito bom. Cantores com grande potencial. Casa já reconhecida por ser capaz de ser futuramente uma referência no cenário da ópera no Brasil, cargo muitíssimo invejado, diga-se de passagem. Mas prefiro a poesia do Macbeth de William Shakespeare. Sei que não é justa a comparação. E por dois motivos: são linguagens diferentes e é injusto competir com Shakespeare, principalmente quando se trata de grandes tragédias.

Foram quase três horas de espetáculo, dividido em quatro atos. Destaque meu para a Lady Macbeth. Sempre achei incrível como Shakespeare escrevia suas grandes vilãs. É ela quem conduz praticamente toda a tragédia. Sutil por vezes, voraz tantas outras. E o que seria de Macbeth sem sua Lady? Na ópera, Cynthia Lawrence conduziu muito bem essa personagem. Só não senti tanta firmeza na ária mais esperada e difícil do soprano na ópera, a "Or tutti sorgete, ministri infernali". Pode ter sido o dia que fui. E pode ser porque realmente não entendo nada dessas técnicas do canto lírico. Outros momentos também vi as diferenças entre as Ladies verdiana e shakespeariana. Senti falta de uma força que o soprano deveria ter dado à vilã que interpretava. Destaco também o Banquo do baixo gaúcho Luiz Molz. Esse sim cresceu na ópera. Excelente interpretação.

Mas o que realmente não consegui engolir foi a representação das bruxas na ópera. Lembro que quando li pela primeira vez Macbeth, logo de cara me apaixonei. Elas, TRÊS bruxas, simplesmente surgem. Aparecem e já dizem a que vieram. Não tão diretamente assim. Longe disso. Mas já enfeitiçam os leitores. Encantam com seus cantos. E as construções poéticas que Shakespeare foi capaz de criar, dando então esse lirismo a essas (TRÊS) bruxas, é o que não foi reproduzido na ópera. Grande erro, eu diria. Ou então, um grande equívoco em retirar isso da obra. Tá, realmente não sei qual era o objetivo de Verdi. Mas a ópera poderia ser ainda mais bela e poética se tivesse sido mais fiel a William Shakespeare. Na ópera da Fundação Clóvis Salgado, as bruxas pareciam aborígenes. O que eram aquelas máscaras exagerada e desnecessariamente toscas? Não entendi realmente. E durante as outras aparições das bruxas, o mesmo ocorre. Onde estava Hécate? Ela nem foi diminuída na ópera. Foi excluída. Imperdoável para qualquer shakespeariano.

Mas em termos lírico-erudito-musicais estava tudo bem. A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais cumpriu um importante papel, fez uma excelente apresentação. Conduziu um belo Verdi para os mineiros. Precisamos é de mais. Sim. Isso tudo é um juízo de valores. Antes, juízo de gostos. E eu realmente gostei muito do Macbeth verdiano pela Fundação Clóvis Salgado. Bom começo para a temporada de 2009 de óperas em Belo Horizonte. Gostei muito do Macbeth de Verdi. Mas prefiro o de Shakespeare. Prova do sucesso e qualidade (tá, também não sei se isso prova alguma coisa) é já ter esgotado os ingressos desde ontem para as duas últimas apresentações da ópera, uma hoje e a outra no sábado. Ainda bem que já fui. Pena que não verei de novo. Especialmente neste sábado. É uma pena, mas a gente compensa de outro jeito...

Deixo-lhes com a tal ária, "Or tutti sorgete, ministri infernali", mas por outra intérprete. No caso, o soprano russo-ucraniano Maria Guleghina:



É isso.
Abraços!

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