sexta-feira, 22 de maio de 2009

Day after yesterday

Maio. Outono. Inverno quase chegando (ou já chegou? - essa necessidade humana de sempre querer medir as coisas, tudo certinho, de nomear o todo e o nada; um dia com 24 horas exatas, um minuto depois disso e já não é mais o mesmo dia, é o amanhã, já é o hoje, e não faz parte do ontem) e posso senti-lo caminhando devagar, se aproximando de mim, de cada um de nós. O tempo passa. Nós passamos por ele. Ele nos deixa marcas, amassos em nossas roupas, feridas também, nos aleja.

Cafés-da-manhã, amigos, desconhecidos, poetas de rua (tá, o de hoje era um cronista), conhecidos, universitários, mendigos, empresários, pais de família, meninos de rua, o frio da cidade, a mata do campus, carros, pessoas, formigas, os que ensinam, os que aprendem, o chocolate quente "com-açúcar-é-claro", o jacaré do livro, o cigarro de palha, as teorias, as dificuldades, o tesão pelo que se faz, o narrador no hospital do outro livro, os chatos, os redundantes, os desinteressantes, os alienados, os narcisistas (que não sabem - ou não adimitem - que o são), os transeuntes, os pivetes, a cidade, as luzes, os bares, o lixo espalhado pela calçada, a noite, o vento gelado, os mentirosos, os inconformados, os conformistas, o ser humano. O existencialismo. A misantropia. Eu.

Alguém bem próximo de mim me disse que devo mudar o meu modo de pensar. Pode ser algum problema comigo. Mas desde que entendo-me por mim mesmo, sempre fui assim. Então acredito que essa seja minha essência. O problema é mais interno, está no meu sangue, talvez no meu fígado.

Frieza? Racionalidade, mas reflexão. Não divago por apenas querer divagar, mas por ser necessário. E com cuidado. Sei andar perfeitamente no escuro. Guio-me por instinto e por curiosidade, audácia. Uma parede pode ser o destino certo à minha frente, mas será o caminho que terá sido escolhido por mim. Que a pancada seja forte, que meu crânio abra uma fenda latitudinal, que moscas venham e comam minha massa cinzenta, que o suco grosso escorra pelos meus olhos, colorindo a minha face.

quero a poesia, a tranquilidade, o caos dentro de mim. Odeio a utopia. A ignorância. Serei falso quando quiser, com quem eu quiser. Serei-lhe agradável como queira, mas quando eu quiser.

Tragam-me o silêncio. Fiquem com o caos. Engulam-se uns aos outros. Festejem a ignorância, a pobreza, o conformismo, as convenções. Festejem, mas engulam-se.

Sobrará alguém no fim de tudo isso, além das baratas e outros seres à prova de guerras nucleares? Sim, todos nós. E até nisso somos hipócritas, covardes. A covardia, o conformismo, a hipocrisia, o ócio, o metódico cotidiano é o que injetará oxigênio em nossos pulmões, nos alimentará e nos higienizará.

Queimem seus livros de Jean-Paul Sartre, esqueçam James Joyce e William Faulkner, nem comecem a ler um romance aí escrito por um réptil (que não teve a coragem de creditar seu texto ao próprio nome e o deu a um tal de S. Nazarian), nem procurem teses filosóficas. Também nem comecem pelas escritoras, é perca de tempo para vocês querer entender Virginia e Clarice. Isso deve lhes trazer um link para a podridão interna de cada um. De todos nós. De cada um de nós. Digo, continuem assim, quietos, metódicos, uma máquina, pois a plena felicidade ainda é possível dessa forma.

Vem, Inverno, mas fique também, Outono. Quero as folhagens amareladas pelas calçadas, o vento a soprar para longe meus devaneios e trazer um pouco de frescor ao meu rosto nesses dias, um pouco da fresca e gélida brisa.


"Today is the day after yesterday
And yesterday didn't go so well
My love came down and assured me:
Sit down, I have something to tell"

Anneke van Giersbergen

Um comentário:

Jay disse...

OH, amigo! Vc tem um blog!!!!
Favoritadíssimo...

Obrigada pelas doces palavras.
Não me anulo, sempre transbordo...mesmo que por vezes eu pareça um pires.